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NÚMERO DE IDOSOS SEM TRABALHO SUBIU 32% EM MG DURANTE A PANDEMIA

A população com mais de 60 anos foi inegavelmente a mais impactada pela pandemia. Mais de 70% das vítimas da Covid estão nessa faixa etária. E os problemas vão muito além das internações, do luto e do medo. Considerados integrantes de um grupo de risco, muitos idosos tiveram de deixar o mercado de trabalho, influenciando a renda das famílias.

Somente entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021, o número de trabalhadores com mais de 60 anos desocupados cresceu 32% em Minas, segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese). Nesse período, 13 mil pessoas dessa faixa etária deixaram de trabalhar.

Com a pandemia, Minas Gerais chegou a quase 53 mil pessoas com mais de 60 anos que perderam o trabalho e não conseguem encontrar outro, mesmo procurando. O aumento da desocupação nessa idade só não é maior do que entre os mineiros de 40 a 59 anos, que chega a quase 42%, mas supera a alta de todas as demais fatias da população. Embora o desemprego tenha aumentado em todas as faixas etárias, os mais velhos enfrentam um desafio particular na recolocação no mercado, na avaliação de especialistas: o preconceito com a idade, que é anterior à crise sanitária, mas foi agravado por ela.

“Sempre sou discriminado pela idade. Terminei o ensino médio no ano passado para ver se conseguia algo melhor, e meus filhos se ofereceram para pagar uma faculdade, mas não sei se compensa com esse mercado. Hoje, entreguei dois currículos para trabalhar em portaria, porque eu não consigo ficar parado, e a aposentadoria é baixa. Mas me falaram em um dos lugares que só admitem pessoas abaixo de 60 anos, por causa da pandemia”, relata Joaquim Alves, 76.

Os empregos formais para quem tem mais de 65 anos seguem em baixa, como antes da pandemia, mostra o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Todas as faixas etárias experimentaram mais desligamentos do que contratações ao longo da crise sanitária, mas se recuperaram nos últimos meses, enquanto os mais velhos continuam com saldo negativo.  A professora de demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Simone Wajnman pontua que os trabalhos informais, nos quais os idosos se concentram no país, porém não são contabilizados pelo Caged, também foram afetados.

“A pandemia não inventou nada, simplesmente exacerbou uma tendência que já vinha de muito antes. As taxas de desemprego, que estavam aumentando, continuaram a crescer, assim como o aumento da informalidade. Grande parte das pessoas mais velhas trabalha informalmente após se aposentar, mas a pandemia destruiu esse mercado e os trabalhos que têm contato com o público, onde os idosos se concentram. Do ponto de vista do cuidado com a saúde dos idosos, a sociedade acordou um pouco, mas não sobre o mercado de trabalho”, avalia.

Quando olha para trás e relembra o que pensava sobre o envelhecimento durante a juventude, Joaquim Alves percebe que tem muito mais vigor do que esperava. Chegou aos 76 anos ainda disposto a trabalhar. “Eu imaginava que seria um cara muito mais desgastado quando a idade chegasse, mas sempre me preocupei com a saúde. Isso ajuda muito”.

Via O Tempo