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PIONEIRA NO ARTESANATO, D. ANESIA MORRE AOS 93 ANOS

Morreu na madrugada deste sábado (18), a senhora Anésia Rosalina Santos Freire. Com 93 anos, deixa um grande legado e muitas histórias com o artesanato carmelitano.

Dona Anésia pode se dizer que era a tecelã mais conhecida do Brasil. Primeiro, porque viajou pelo país ensinando as técnicas que pouca gente domina hoje como ela. Segundo, porque foi parar na TV, em 1993, interpretando a si mesma e fazendo o que mais gosta de fazer na novela “Fera Ferida”, da TV Globo.

Dona Anésia treinou professores do curso de têxtil da USP, além de costureiras, bordadeiras, fiadeiras e tecelões não apenas em Minas.

“Até um tempo [anos 1980] os tecidos eram feitos à mão, todo mundo queria tocar e ver aqui em casa esse trabalho. Faziam fila para aprender e para comprar. Hoje, tem gente que eu ensinei e que produz tudo em tear elétrico e diz na etiqueta que é manual. É muito triste”, dizia a tecelã, que aprendeu com a mãe as técnicas de fiação trazidas ao país por escravos.

Em 2014, foi destaque no programa “Rota 35”, com Pedro Leonardo filho do cantor Leonardo, e Aline Lima, filha do cantor Chitãozinho. Eles estiveram na casa de Dona Anésia contando um pouco da sua história. O programa fez parte das comemorações de 35 anos da EPTV, afiliada Rede Globo.

HISTÓRIA

Anésia Rosalina Santos Freire, ou simplesmente D. Anésia, como era carinhosamente chamada, nasceu em 10 de setembro de 1928 na zona rural. No entanto, contava que foi registrada como se tivesse nascido no dia 30

de setembro de 1928, erro cartorário comum naquela época.
Estudou na escola regular até a 4ª série do ensino fundamental e, ainda criança, teve seu primeiro contato com o processo de tecer. A princípio, foi incentivada pela avó e pela mãe, também tecedeiras.
D. Anésia também foi ligada a esse saber pela família do pai, constituída por tecelões. Mas seu primeiro contato com os tecidos manuais consistia em limpar a lã com a “carda” e descaroçar o algodão com o “descaroçador.
No começo os tecidos manuais atendiam a maioria das necessidades dos familiares; elas faziam com eles calças e camisas masculinas, lençóis, toalhas e também peças da indumentária feminina, como saias.
D. Anésia contava que sua mãe a colocava para fiar algodão, ajudando na produção dos tecidos; trabalho pelo qual a mãe a remunerava.
Assim, foi tecendo, tecendo, até que se casou aos 23 anos, ainda na zona rural. Naquela época, D. Anésia cumpria as tarefas domésticas e o marido provia o sustento familiar trabalhando na plantação. E assim foi até que, por problemas pessoais, eles tiveram que vender as terras e mudaram-se para a cidade, já com filhos.
Foi quando D. Anésia subitamente decidiu comprar fios de algodão das muitas fiandeiras que moravam nas fazendas. Comprou os fios e teceu as primeiras toalhas para sua família. Então, começou a tecer colchas para vender,
pensando em prover o sustento dos filhos. Isso também deveu-se ao fato de que, em decorrência de um acidente de trabalho, o marido ficara impossibilitado de desempenhar suas atividades no campo. Nesse afã de fazer as colchas para vender, D. Anésia certo dia, viu chegarem algumas mulheres de fora da cidade do Carmo para comprar colchas, e viram as toalhas de banho que ela tinha tecido para os filhos.