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SUL DE MG ESTÁ COM TEMPERATURAS 5% ACIMA DA MÉDIA

O calorão deve continuar no Sul de Minas nesta semana. A informação é do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que emitiu um novo alerta até quinta-feira (9) que envolve todas as cidades da região. A previsão é de que as temperaturas cheguem até a 5ºC acima da média. (Veja a previsão abaixo).

Mas como chegou a esse nível de calor? O efeito persistente do fenômeno climático El Niño contribuiu para o aumento das temperaturas nos últimos dois anos – o que tem impactado agora especialmente a estação do outono.

E o cenário descrito pelo Inmet não é surpreendente para os climatologistas, que há tempos alertam para as mudanças no clima e os impactos. As estações definitivamente não são mais as mesmas de décadas atrás. Entenda abaixo.

“Nosso outono não é mais o mesmo. Se você tem mais de 40 ou 50 anos como eu, você sabe que você não está vivenciando uma estação como você vivenciava na meninice. Não há mais nevoeiros com aquela frequência que haviam, as temperaturas amenas e às vezes baixas, que assolavam as nossas madrugadas e manhãs. Enfim, toda uma conjuntura típica que indicava uma estabilidade e uma característica climática, inclusive, da nossa região”, explica Paulo Henrique de Souza, climatologista da Unifal-MG.

 

Conforme o professor, os humanos alteraram as condições do planeta absorver e distribuir a energia do Sol através da degradação ambiental, como desmatamento e a queima de combustíveis fósseis que contribuem para o aprisionamento do calor na atmosfera.

Essas ações, ao longo do tempo, têm impactado diretamente nas condições climáticas, resultando em ondas de calor mais frequentes e intensas.

Segundo as pesquisas feitas pelo climatologista, as temperaturas têm aumentado gradualmente desde a década de 1960. Essa tendência é um reflexo das ações humanas.

“As temperaturas estão ligeiramente acima da média a cada ano e vão prosseguir. Nós tabulamos dados atmosféricos do Sul de Minas de 1960 até 2020. E nelas vocês poderão ver como é bem clara essa situação de transição, de mudança, onde a temperatura vai aumentando, aumentando gradativamente. E se você me perguntar: “Professor, isso veio pra ficar?” Infelizmente veio pra ficar. Mas veio também pra fazer um alerta. Vamos repensar nossas atitudes e nossas ações. Porque podem vir outros episódios para os quais nós não tenhamos condição de administração ou de mitigação. Mudanças climáticas são sérias e é um campo sobre o qual nós não temos muito horizonte de conhecimento. Por isso, toda a cautela e toda a atitude que repense as nossas ações deve ser, neste momento, privilegiada para o bem de toda a humanidade”, alerta o professor.

Calor x Saúde

 

Baixa umidade, problemas respiratórios, pouca ingestão de líquidos. Os efeitos desse calor extremo na saúde são explicados o médico clínico geral e reumatologista, Enio Ribeiro.

“De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a faixa de umidade ideal para o ser humano em torno de 40 a 70%. Quando essa faixa cai a menos de 30%, isso já configura sinais de prejuízo evidentes para a saúde”, afirma o médico.

E quais são os impactos na saúde? “A baixa umidade do ar afeta de forma significativa o organismo humano, principalmente as vias respiratórias, produz garganta irritada, sangramento nasal, doenças respiratórias como bronquite, asma, predisposição a doenças infecciosas como viroses, dor de cabeça, sensação de areia nos olhos, pele ressecada, queimação na pele. Tudo isso são sintomas típicos da umidade ressecada no ar”, explica.

No período de calor extremo, é importante tomar medidas preventivas como a umidificação do ambiente, seja por meio de aparelhos específicos ou métodos mais simples, como toalhas molhadas ou bacias com água.

Além disso, é essencial aumentar a ingestão de líquidos, principalmente para grupos mais vulneráveis, como os idosos, que têm maior dificuldade em reconhecer a sensação de sede.

“As doenças respiratórias acometem principalmente quando a umidade cai a menos de 30%, o que aumenta a propagação de vírus e pode complicar também com doenças bacterianas subsequentes. O nosso organismo tem um sistema de defesa e ele precisa da umidade relativa do ar para esses cílios que protegem as mucosas terem a sua função. E quando a mucosa fica muito ressecada, prejudica essa proteção”, completa.

Além dos problemas respiratórios, o médico alerta para os riscos de insolação, causada pelo excesso de exposição ao Sol. Os sintomas podem variar de mal-estar e febre a queimaduras graves e desmaios.