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VIOLÊNCIA POLÍTICA DIGITAL É DESAFIO PARA AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS

O líder de um grupo de ódio, organizado em fóruns virtuais (conhecidos como chans) para atacar parlamentares brasileiras no ano passado, foi localizado quase um ano após o envio das mensagens, no início do período eleitoral das eleições deste ano.

O caso é um dos muitos episódios de violência política no Brasil e a proliferação destes grupos na internet faz com que o debate em torno da violência política de gênero seja um dos mais importantes às vésperas das eleições municipais de 2024.

Nos ataques virtuais disparados em agosto do ano passado, as vereadoras de Belo Horizonte Iza Lourença (PSOL) e Cida Falabella (PSOL) foram as primeiras a receber emails com ameaças de ‘estupro corretivo’. Elas levaram a denúncia à polícia. Após a divulgação do caso, deputadas que se solidarizaram com as duas vereadoras também passaram a receber ameaças semelhantes.

Outro crime cometido pelo grupo foi o vazamento de dados pessoais como e-mails, números de telefone e endereços das parlamentares e de seus familiares.

Falta de uma rede de denúncia é a principal queixa das parlamentares

A vereadora de Belo Horizonte, Iza Lourença (PSOL) lamentou a dificuldade encontrada para a denúncia desses casos. Segundo ela, foi um longo caminho para que o líder do grupo fosse preso e a falta de uma rede específica para os crimes de violência política dificulta o processo.

“Nós fomos na delegacia de crimes cibernéticos, mandaram a gente para delegacia de direitos humanos, lá nos mandaram para o Ministério Público. Se você pode procurar 17 canais diferentes para fazer uma denúncia, quer dizer que não existe um canal específico para tratar da violência política”, denunciou a vereadora.

“Claro que existe hoje, no MP Estadual, o Observatório da Democracia, mas a gente ainda precisa dar muito mais passos para que as mulheres se sintam seguras e não desistam de estar presentes na política”, afirmou Iza.

Violência no Ambiente Digital

Segundo o último relatório disponibilizado pelo Observatório Brasileiro de Violência Online, da Universidade de Brasília, 75% das vítimas de violência online são meninas e mulheres e os principais casos são de crimes contra honra/cyberbullying e vazamento de imagens, além do discurso de ódio.

No ano passado, pesquisadores da Universidade Federal Fluminense produziram um estudo que detalha a violência política contra mulheres nas plataformas digitais. No período de seis meses foram encontradas mais de 4 milhões de mensagens e cerca de 9% delas, ou seja, 360 mil, traziam alguma ofensa.

A socióloga, cientista política e pesquisadora de gênero, Bruna Camilo, ressaltou como o ambiente digital se tornou parte do nosso cotidiano, sobretudo após a pandemia.

“Eu sempre falo que é muito importante pensar na regulação da internet. Não existe ainda uma regulação que de fato puna determinadas plataformas e perfis que façam um ataque. Porque são pessoas anônimas que acreditam que nada vai acontecer com elas”, comentou a pesquisadora sobre a sensação de impunidade dos crimes virtuais.

Para Bruna, esse é um debate que mal começou e está longe de se esgotar. “Eu espero que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se preocupe com o ambiente virtual, porque a gente sabe que é importante as campanhas de rua, mas as eleições hoje são fundamentalmente ocorridas no âmbito digital”.