BRASILEIRO É O QUE MAIS COZINHA, DIZ PESQUISA
Conforme o levantamento, que analisou mais de 3 milhões de ocasiões de consumo durante o ano de 2023 em nove países – México, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Portugal, Espanha, Colômbia e Brasil –, a América Latina é a região que menos faz uso de refeições prontas. Nesse ponto, inclusive, o destaque fica mais uma vez com os brasileiros, que são os que menos consomem snacks como parte da alimentação-base.
A conclusão tirada desses dados é que, mesmo que possa parecer mais prático pedir uma comida por delivery, preparar uma refeição congelada ou beliscar alguma coisa, os brasileiros continuam optando por preparar os próprios pratos em casa. Essa escolha, a propósito, está cercada de benefícios. É isso o que aponta a nutricionista Lais Caires.
“O ato de cozinhar vai muito além de preparar uma refeição. É amor, resistência, união e cultura. Na cozinha fortalecemos laços familiares, criamos boas memórias, ensinamos as crianças a criar autonomia, preservamos tradições passadas por gerações. E, ao optar por cozinhar, as pessoas assumem o controle de sua alimentação, afastando-se da dependência de alimentos altamente processados e industrializados que caracterizam a cultura do fast-food, além de garantir maior qualidade e higiene no momento do preparo”, lista.
A preparação da comida também favorece a escolha por melhores alimentos e a opção mais saudável de temperos, condimentos e óleos. “Preparar comida em casa oferece maior controle sobre os ingredientes e os métodos de preparo, como evitar excesso de sal, gorduras e açúcares adicionados, além de poder incluir mais alimentos frescos e naturais. Já em restaurantes ou serviços de delivery, mesmo em opções consideradas saudáveis, pode haver ingredientes processados, conservantes e porções maiores de gordura e sal. Além disso, o risco de contaminações alimentares também é menor quando fazemos a comida em casa”, explica a nutróloga Rosana Amato.
Ato de afeto
Uma comidinha caseira preparada com carinho também pode ter outros significados, que vão além da saúde física. A nutricionista e terapeuta do comportamento alimentar Ana Soares chama a atenção para a relação da alimentação com o afeto. “O primeiro contato que a gente tem com a comida é através da amamentação, e ele traz essa conexão, esse vínculo afetivo.
Então, quando cozinhamos algo para nós ou para alguém, despertamos esse sentimento”, pontua a especialista, que é uma das convidadas do Seminário O TEMPO Gastrô. Ela participa, no dia 29, no Mercado de Origem, do painel “Você é o que você come: cultura e saúde no prato”. “Com o boom de doenças que afetam a saúde mental que estamos vivendo, o ato de cozinhar também é uma forma de cuidar dessa área do vínculo, do afeto, do resgate desses momentos em família, das pessoas que são queridas. Então, acredito que cozinhar em casa também vai por esse caminho e ajuda nesse sentido”, completa.
E é essa uma das grandes contribuições da cozinha na vida da confeiteira Érica Paes, 47, e de sua mãe, Terezinha Paes, 69. As duas, que lutam contra o câncer de mama, se encontram diariamente para comer juntas. “Ela almoça comigo praticamente todo dia, ela está sempre lá em casa, e isso me ajuda porque ocupa a mente”, conta, em entrevista a O TEMPO.
A confeiteira diz que o trabalho com doces também é salvador. “Eu amo o que estou fazendo hoje, porque se não fosse isso nem viva eu estava mais. Antes do dinheiro que eu ganho com a confeitaria, eu amo o que faço”, diz.
Um estudo publicado em 2022, na revista “Frontiers in Nutrition”, confirmou a percepção de Érica, apontando que cozinhar pode contribuir para a melhora da saúde mental. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão depois de acompanhar 657 pessoas que fizeram um curso de sete semanas sobre culinária saudável. Após seis meses do fim do curso, os participantes que tinham feito as aulas perceberam uma mudança significativa na saúde mental e física como um todo.
Escolha consciente é o segredo para alimentação saudável
Embora existam diferentes benefícios que justifiquem a importância do preparo das refeições em casa, a rotina corrida, a falta de tempo e até mesmo a praticidade de pedir comida podem acabar fazendo com que as pessoas optem pelo delivery.
Mas, mesmo que a praticidade do delivery o torne uma opção útil, a nutróloga Rosana Amato pontua que é importante tomar alguns cuidados na escolha das refeições para manter uma alimentação equilibrada. Entre as dicas dadas pela médica estão a escolha por pratos balanceados e por restaurantes com opções saudáveis. Ela também indica ter cuidado com os molhos e acompanhamentos, já que eles podem adicionar muito sódio, açúcar e gorduras às refeições. “Prefira molhos à base de azeite, limão ou iogurte natural”, sugere. A nutróloga também pede atenção ao tamanho dos pratos. “As porções oferecidas em delivery costumam ser maiores do que as recomendadas, o que pode levar ao consumo excessivo de calorias”, acrescenta.
A nutricionista Ana Soares destaca que, antes de tudo, é preciso fazer escolhas conscientes. “Está todo mundo vivendo uma vida corrida, balanceando o trabalho com o cuidado com a casa, então está tudo bem precisar pedir, às vezes, alguma comida. Mas, para isso, devemos procurar as opções dentro dos aplicativos que são mais nutritivas. Podemos selecionar alguns restaurantes, lanchonetes e locais com uma comida mais caseira, com alimentos menos processados. Buscar pratos com arroz, feijão, legumes, salada, suco, ou até uma sopa, agora nesse tempo mais chuvoso”, sugere ela, reconhecendo que grande parte das opções acaba sendo de alimentos mais gordurosos. “O que trago muito para os meus pacientes é a ideia de comer consciente, de prestar atenção nessas escolhas”, reitera.
Ela também acrescenta que é importante desenvolver novos comportamentos. Mesmo que o delivery facilite a vida, ele acaba impactando a saúde. “As escolhas alimentares feitas em família é algo que acaba afetando a vida das crianças, dos jovens, das mulheres, dos idosos, dos núcleos familiares como um todo. Por isso é importante ver a alimentação como uma oportunidade de nutrição e buscar fazer uma escolha que beneficie toda a família”.
Diante disso, ela destaca que desenvolver habilidades culinárias e procurar aprender receitas práticas pode ser também um caminho para lidar com a falta de tempo. “Dá para fazer coisas mais fáceis no dia a dia, seja congelar comida, fazer um suco de fruta, um omelete”, aconselha.