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MORTE DE IDOSOS POR QUEDA AUMENTA 60%

À medida que uma pessoa envelhece, quedas podem se tornar frequentes, com consequências desastrosas ou até fatais na vida de um idoso. A morte do cantor Agnaldo Rayol, aos 86 anos, provocada por uma queda no banheiro de casa, e o traumatismo craniano sofrido pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, de 79 anos, que caiu enquanto cortava a unha do pé, são exemplos recentes desse tipo de acontecimento.

Dados do Ministério da Saúde apontam que, em 10 anos, o número de óbitos por quedas de idosos com 60 anos ou mais no Brasil aumentou em 58,88% – foram 8.775, em 2013, contra 13.942, em 2023. No ano passado, quase 300 mil idosos receberam atendimento no SUS após caírem, gerando um custo de R$ 321,3 milhões aos cofres públicos.

De janeiro a agosto de 2024, mais de 216 mil pessoas mais velhas buscaram pelo mesmo tipo de atendimento na rede pública. De acordo com o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, 40% dos idosos com 80 anos ou mais sofrem pelo menos uma queda ao ano. Quando se observam aqueles que moram em asilos ou casas de repouso, esse número aumenta para 50%.

Esse tipo de episódio é comum a essa faixa etária porque o corpo passa por um “envelhecimento fisiológico”, conforme explica a geriatra do Instituto Geriátrico Santa Casa BH, Carolina de Oliveira Lisboa. “Isso inclui a perda de força muscular, que leva à diminuição de peso, e, consequentemente, redução de força e de equilíbrio”, aponta a médica.

São muitos os fatores de risco que podem levar um idoso a cair, dentre os quais fraqueza muscular, déficit de equilíbrio, dano cognitivo, doenças como artrose e osteoporose e uso de medicamentos. “Diversas medicações podem prejudicar o equilíbrio, como os remédios para dormir, conhecidos como psicotrópicos, como Alprazolam, Clonazepam e Lexotan, além de antidepressivos, antipsicóticos e anti-hipertensivos. É fundamental lembrar que o excesso de medicação e dosagens inadequadas agravam o problema. Portanto, é essencial monitorar o uso de medicamentos em idosos, buscando a orientação médica para ajustar as dosagens e garantir a segurança”, ressalta a geriatra.

Existem ainda razões externas que podem levar à queda de um idoso em casa, tais quais a má iluminação do ambiente em que ele vive, tapetes soltos e objetos espalhados pelo chão da casa, além da falta de barras de segurança em áreas molhadas, como banheiro.

Para evitar acidentes em casa, a fisioterapeuta especialista em geriatria e gerontologia pela UFMG, Carolina Schmidt indica adaptações para residências onde idosos moram. “Evite colocar muitas mesinhas ou deixar coisas espalhadas pelo chão. Além disso, coloque fita embaixo dos tapetes para que eles fiquem firmes ao solo e instale barras em áreas molhadas como banheiro”, sinaliza.

“Quando há algum tipo da alteração na marcha ou por instabilidade postural provocada pela sequela de alguma doença prévia, esses dispositivos podem auxiliá-lo na caminhada. Mas isso quem avalia é o médico junto do fisioterapeuta, porque é preciso analisar se o paciente tem condições de usar aquele dispositivo de segurança, uma vez que ele pode cair pelo uso inadequado desses aparelhos”, alerta a geriatra.

Vida saudável para evitar quedas

As especialistas alertam que, por mais que as quedas se tornem naturais durante a velhice, é importante adotar hábitos saudáveis para evitá-las ao máximo, uma vez que podem ser extremamente prejudiciais à saúde.

“Mudanças no estilo de vida podem desempenhar um papel fundamental na prevenção de quedas em idosos. Uma das principais orientações é a prática regular de exercícios físicos, especialmente aqueles que promovem o aumento da força muscular, principalmente dos membros inferiores. Além disso, outros hábitos saudáveis também são importantes, como redução do consumo de bebidas alcoólicas, alimentação e sono adequados, correção de problemas de visão e utilização de calçados adequados”, recomenda a geriatra do Instituto Geriátrico Santa Casa BH, Carolina de Oliveira Lisboa.

Fisioterapeuta especialista em geriatria e gerontologia pela UFMG, Carolina Schmidt destaca que exercícios de fortalecimento muscular são essenciais, “mas é preciso ser realizado uma avaliação criteriosa e ampla para descobrir os reais motivos que estão provocando essas quedas.”

“Sempre associamos a fisioterapia a funcionalidade, logo, exercícios que estão relacionados a sentar e levantar, alcançar objetos, agachar e movimentos rotineiros, são muito importantes ao longo da vida. Geralmente esses exercícios utilizam de grandes grupos musculares, essenciais para nosso equilíbrio e função”, comenta. Jovens e adultos realizam movimentos que necessitam de dupla tarefa, como conversar e dirigir, com muita facilidade. Ao longo da vida, isso vai se perdendo e o cérebro foca em apenas uma atividade, então quanto mais praticarmos, mais estímulo o cérebro terá para se manter ativo”, salienta.

Cuidados com idosos que sofreram queda

Para um idoso que já sofreu uma queda, existem recomendações para a recuperação e prevenção de novos acidentes. “É fundamental reforçar as recomendações básicas para prevenir novas quedas, principalmente no ambiente domiciliar, onde a maioria dos acidentes acontece. Além das medidas já mencionadas, como a adaptação do ambiente, o acompanhamento psicológico também é crucial. A queda, além de causar fraturas e alterações neurológicas, pode gerar medo de cair novamente”, comenta a geriatra do Instituto Geriátrico Santa Casa BH, Carolina de Oliveira Lisboa.

“E esse receio pode levar o idoso a se tornar mais recluso e a evitar atividades, criando um ciclo vicioso de isolamento e fragilidade. A psicoterapia pode auxiliar o idoso a lidar com o medo de cair, superando essa barreira e retornando à sua rotina normal. É importante reconhecer que o medo de cair é uma reação natural, mas que pode ser superado com apoio psicológico adequado”, orienta a médica.

A fisioterapia também pode ajudar idosos que já sofreram uma queda a recuperar confiança e mobilidade. “À medida que os idosos praticam exercícios, a evolução se torna muito clara na vida deles: relatam sentir maior confiança e diminuição do medo de cair, aprendem a usar os calçados corretos e automaticamente aumentam suas funções dentro de casa”, aponta a fisioterapeuta especialista em geriatria e gerontologia pela UFMG, Carolina Schmidt, destacando que a prevenção continua sendo a melhor alternativa.

“Infelizmente, as famílias nos procuram após o idoso cair. Mas o ideal seria assim que observar que o paciente está perdendo suas funções ou andando segurando nos móveis, com dificuldade ao sentar e levantar, por exemplo, já é hora de procurar um fisioterapeuta”.