NÚMERO DE PREFEITOS E VEREADORES JOVENS SERÁ O MENOR DO SÉCULO
A idade mínima para ser vereador no Brasil é 18 anos, a mais baixa entre os cargos políticos. Para chefiar o Executivo municipal, a exigência é de 21 anos, também uma das menores. Ainda assim, jovens se elegendo e ocupando esses postos seguem sendo exceção no Brasil e em Minas Gerais. Em 2025, o Estado terá 16 prefeitos e 506 vereadores com menos de 30 anos, em um total de 853 municípios, enquanto no Brasil, esses números serão de 112 prefeitos e 3.284 vereadores em 5.570 cidades.
O levantamento revela que o número de prefeitos e vereadores eleitos com menos de 30 anos nas eleições de 2024 é o menor do século, tanto no Brasil quanto em Minas Gerais. O índice também é o mais baixo desde 2000, último ano com dados disponíveis pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A análise adota a faixa etária definida pelo Estatuto da Juventude, que dispõe sobre os direitos do grupo e considera jovens que têm menos de 30 anos.
De acordo com o mapeamento, em 2020, 6,28% dos eleitos para as Câmaras Municipais e prefeituras no Brasil tinham até 29 anos, totalizando 4.328 jovens. Em 2024, esse percentual caiu para 5,11%, correspondendo a 3.510 eleitos, uma redução de 18,9%. Em Minas Gerais, a tendência é similar: a porcentagem caiu de 6,43% (653 eleitos) para 5,24% (532 eleitos), uma queda de 18,5%.
O número de candidatos também é o menor desde o último registro. Em 2024, 6,3% de todos os postulantes a prefeito e vereador tinham menos de 30 anos, ante 8,43% em 2020 e 10,07% em 2004, o número mais alto da série histórica. No Estado, novamente, a mesma tendência: foram 6,7% este ano, 8,4% nas últimas eleições municipais, e 9,82% em 2004.
Para Daniela Costa, gerente de redes e advocacy da Girl Up Brasil, organização responsável pelo projeto Juventude Eleita, a baixa presença de cidadãos com menos de 30 anos nos espaços legislativos e executivos e a queda nesses números refletem o descrédito dos jovens em relação à política partidária. “Existe um descrédito muito grande, que faz com que muitos jovens não se interessem pela política partidária atualmente e, consequentemente, nós temos menos candidatos jovens. Eles não se veem refletidos nesses espaços e nos representantes eleitos. Temos observado o número de filiações partidárias entre jovens caindo bastante ao longo dos últimos anos”, destacou.
O número de filiações partidárias de adolescentes e jovens na faixa dos 16 aos 24 anos despencou 78,5% em Minas entre as eleições gerais de 2018 e 2022, segundo dados do TSE. No Brasil, também houve uma queda significativa, de 60,4%, considerando o mesmo período e intervalo etário. Esse declínio supera em muito o registrado em outras idades: entre todas as faixas etárias, o número de filiados a partidos políticos caiu 0,7% no Brasil e 5,3% no Estado.
A Câmara Municipal, que tradicionalmente conta com uma presença maior de jovens em comparação a outras instâncias políticas, também terá menos representantes dessa faixa etária no próximo ano. “Até na vereança esses números têm caído, embora essa seja, em geral, uma porta de entrada para os jovens na política. A vereança está mais ligada aos problemas do município, da comunidade, sendo uma forma de política mais tangível para poder se engajar”, observou Daniela Costa.
Para a gerente da Girl Up Brasil, isso não significa que os jovens estejam desinteressados pela política como um todo. “Existe um estereótipo de que a juventude não se interessa por política, o que é mentira. Existe esse descrédito com a política partidária, mas os jovens debatem política constantemente, se organizam, se mobilizam em muitos espaços. Quando a gente vê as grandes manifestações que lutam por direitos sociais, a juventude está na frente, então ela se interessa sim, por política, mas tem visto cada vez mais menos espaço, ainda mais quando o cenário político está tão bem consolidado e atores tão bem estabelecidos que ocupam os mesmos espaços há muito anos e isso acaba prejudicando a própria renovação democrática do país”, avaliou.
Entre 2000 e 2024, a maior presença da juventude ocorreu em 2008, quando 8,18% dos eleitos no Brasil e 7,79% em Minas Gerais eram jovens. Embora a população brasileira esteja envelhecendo, a juventude ainda é muito sub-representada nos espaços políticos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo de 2010, a população brasileira entre 18 e 29 anos era de 40.982.604 milhões, representando 21,5% da população total do país. No Censo de 2022, essa faixa etária foi reduzida para 36.706.831 milhões, representando 18% da população total.
“O quantitativo democratico do país é muito destoante. A proporção de jovens e de eleitos acaba sendo muito desproporcional”, ressaltou a gerente da Girl Up Brasil, que acrescenta: “Não somos mais uma população tão jovem, mas a gente ainda tem um quantitativo muito grande de pessoas jovens no Brasil. A população tem envelhecido progressivamente, então acho que especialmente por isso é bom investir na nossa juventude. O envelhecimento da população não pode significar o abandono da pauta das juventudes, que já tem sido abandonada”.
Importância dos jovens na política
A ONG liderada por Daniela Costa está à frente de uma coalizão de organizações da sociedade civil para avançar com o projeto Juventude Eleita, que propõe cota mínima de 10% das candidaturas para pessoas com menos de 30 anos. A PL 7292, defendida pelo projeto, está em tramitação na Câmara dos Deputados.
“A gente não têm incentivos na lei eleitoral para que o jovem entre na política, como existem sistemas de cotas de gênero e raça, que têm aumentado a participação política das mulheres. Então pouquíssimas pessoas jovens, principalmente se não vêm de uma família com nome tradicional na cidade, conseguem se eleger, e a presença de tão poucas pessoas jovens na política faz com que as próprias pautas da juventude também acabem sofrendo”, afirmou.
“Não digo que jovem só fala sobre jovem, assim como mulher não vai falar só sobre mulher. A participação dos jovens na política é boa para a democracia. Você tem um novo olhar que beneficia a sociedade de forma geral. A juventude é quem vai lidar por mais tempo com o resultado dessas decisões e não estamos fazendo parte delas”.
“As pessoas só olham para a juventude no ano eleitoral. Pensam em como alcançar o jovem no TikTok, no Instagram, mas as demandas reais da juventude como meio ambiente, igualdade, empregabilidade e saúde mental ficam o resto do tempo de fora da pauta”.
Uma das justificativas para a defesa das cotas é para que mais recursos sejam direcionados às campanhas de candidatos jovens.
“Os recurso são menores para candidaturas jovens, e são candidaturas que precisam proporcionalmente de mais investimento para se eleger, ou porque é uma candidatura que ainda não tem capital político acumulado para concorrer com outras, ou por todos os estereótipos ligados à juventude que falam que o jovem é incapaz de propor política pública e incapaz de assumir um cargo de liderança ou um cargo político. Quando a gente compara os mandatos de candidatos jovens no mundo inteiro com o mandato de candidatos mais velhos, você vê que qualitativamente não há diferença.”
“Os poucos jovens que se elegem acabam sendo jovens que ou recebem grande investimento do partido, o que é muito raro, ou jovens que já têm um nome familiar muito forte naquele município e o capital político dele muitas vezes vem de um nome de família. Então um jovem comum, um jovem negro, uma mulher, quando você adiciona essas outras camadas, enfrentam um cenário quase impossível para se eleger no Brasil atualmente”.
Prefeitos jovens em Minas
O número ainda é puxado para cima pelas câmaras municipais, que a partir do ano que vem terão 5,7% e 6% das suas cadeiras ocupadas por jovens no Brasil e em Minas Gerais, respectivamente. Em Belo Horizonte, três dos 41 vereadores começam a próxima legislatura com menos de 30 anos.
Para as prefeituras, apenas 2% dos eleitos estão nesta faixa etária. São 112, sendo apenas 15 mulheres – cerca de 13% do total. Em Minas Gerais, a proporção não chega a 2%, com 16 eleitos, sendo apenas uma mulher. No Estado, todas as cidades que elegeram jovens para o seu comando têm menos de 100 mil habitantes. Quando considerado apenas aqueles com menos de 25 anos, as cidades não ultrapassam 10 mil habitantes.
Dos 16 eleitos, seis disputaram um cargo político pela primeira vez, enquanto oito já ocuparam ou ocupam cargos públicos: quatro foram reeleitos para a prefeitura, três são vereadores e um já exerceu a verância anteriormente. O único prefeito eleito que já havia se candidatado antes foi Otacilinho (PSB), que tentou a prefeitura de Conceição do Mato Dentro em 2016, mas não foi eleito na época. Ele é o único vencedor de um partido de esquerda, e fará 30 anos menos de um mês depois de assumir o cargo, sendo um dos mais velhos da lista.
O prefeito eleito mais jovem é Eduardo do Alex (PSD), de 21 anos, Ele é de Heliodora, no Sul de Minas, e filho do ex-prefeito Alex Leopoldina de Lima (PSD), que morreu de câncer em maio deste ano.