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ALTA DO DIESEL VAI IMPACTAR PREÇO DE ALIMENTOS E PRODUÇÃO INDUSTRIAL

Os gastos dos mineiros com açougue, sacolão e supermercado já devem ficar mais caros nos próximos dias após o aumento de 24% no preço do diesel, conforme anunciado pela Petrobras. O custo mais elevado com combustível já é contabilizado nas atividades no campo, conforme a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), mas também para a distribuição das mercadorias.

Nesta sexta-feira, o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg) orientou que o valor dos fretes seja reajustado em no mínimo 10%, como resposta ao reajuste anunciado nos combustíveis. No Estado, conforme o gerente de Agronegócio da Faemg, Caio Coimbra, a situação deve desencadear uma alta generalizada.

Ele destaca que alguns setores, que utilizam mais a mecanização, podem ser mais prejudicados, como as cadeias da soja, cana de açúcar e milho. “O aumento do combustível é uma tragédia para todos os setores, porque impacta também no custo do frete. O Brasil é completamente dependente do modal rodoviário, está com perspectiva de melhora, mas não vem a curto prazo”, ressaltou Coimbra.

O gerente ressalta que o cenário favorece ainda mais a elevação dos custos de produção, movimento já observado desde o ano passado. A situação deve impactar diretamente no plantio da chamada segunda safra, feita em março e abril. Com a necessidade de gastar mais, os produtores podem reduzir as áreas plantadas. Dentre os principais grãos que estão sendo plantados está o feijão.

Outro item comum é o milho que, dentre outras utilidades, é fonte de alimentação animal, impactando no preço de laticínios e carnes. “Mas não afeta só esses setores. Vai impactar também os hortifrutis, porque os produtores precisam de tratores, veículos pesados. A própria safra de café, que tem uma certa mecanização, vai ficar um pouco mais cara”, projeta.

Apesar dos riscos, Caio não teme desabastecimento a curto prazo. O cenário só seria configurado em um prolongamento do conflito no leste europeu. “Se o combustível se manter nesse preço por um, dois meses, pode inviabilizar o transporte de produtos”, prevê.

De acordo com a economista da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Daniela Britto, o efeito cascata ocasionado com a elevação no preço do diesel vai impactar duramente as cadeias secundárias. A profissional diz que o setor de veículos e vestuários podem ser um dos mais afetados. “O aumento nos custo de produção de bens e serviços, de forma geral, aumenta a inflação. E inflação mais alta diminui a demanda de bens de consumo que não são de primeira necessidade”, explica.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) calculou, nesta sexta-feira,a inflação acumulada dos últimos 12 anos no Brasil em 10,54%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “A inflação, de forma geral, diminui a demanda. A indústria sente, além do aumento de custos, também a redução da demanda”, diz Britto.

Produção industrial impactada 

 

Sem estudos feitos para dimensionar o impacto do novo preço dos combustíveis, a Fiemg acredita que pode ocorrer uma diminuição na produção industrial nos próximos meses. Daniela Britto não acredita em paralisação de atividades, em função dos repasses que são feitos aos consumidores.

“Se a demanda cai, a capacidade de investimento, contratação vai acompanhar. Pode ocorrer de alguns setores sofrerem mais, engavetando projetos, diminuindo a produção e colocando funcionário em lay-off (suspensão temporária de trabalhadores). Mas vai depender da extensão dessa crise”, avalia.

A mesma preocupação é apresentada pelo Setcemg. A instituição pede que as transportadoras aumentem os valores da tabela de fretes em percentuais a partir de 10%. “A rentabilidade do setor de transporte, que está próxima de zero, não suporta nenhum aumento de custo ou redução de produtividade. Caso isto ocorra, e para assegurar a sobrevivência das empresas, não restará outra alternativa ao transportador que não seja o imediato repasse de cada aumento. O setor não tem condição de pagar a conta sozinho”, informa a nota do sindicato.

A Patrus Transportes, uma das principais empresas do ramo, emitiu nota informando dificuldades em manter contratos sem reajustar os valores dos fretes. “Há contratos que têm reajustes anuais. Como manter um valor de frete por um ano com tantos reajustes? Por isso, muitas empresas passarão por quebra de contratos”, informa trecho da nota.

Ainda conforme a Patrus, a situação inviabiliza, inclusive, a manutenção da frota de veículos. “Fica insustentável comprar caminhão, manter um motorista e fazer as manutenções necessárias. Por isso, muitas empresas estão com a frota sucateada, com caminhões velhos rodando, sem a devida manutenção. Isso traz prejuízo para todos”, complementa o texto, que pede uma política “consistente de combustível” no Brasil.

Via O Tempo