AUTORIDADES IGNORAM PODER DA VARIANTE DELTA COM FLEXIBILIZAÇÕES
A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que monitora a propagação das linhagens do coronavírus no país, aponta que a Delta representava 22% do total das amostras analisadas em julho. Em junho, a variante aparecia em apenas 2,34% das análises. No Rio de Janeiro, a cepa já é responsável por 45% das amostras analisadas na capital do Estado.
Segundo dados do Ministério da Saúde publicados na quinta-feira (12), há pelo menos 706 casos confirmados de covid-19 causados pela variante Delta no Brasil. No entanto, como não há testagem em massa no país, não é possível saber exatamente quantas pessoas foram infectadas pela cepa e o número pode estar subnotificado.
Apesar da escalada da cepa indiana, a variante Gama ainda correspondia a 62,8% das amostras analisadas pela Fiocruz em julho; no mês de junho este número era de 88,6%. Neste sentido, o geneticista Renan Pedra, professor de genética da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) que estuda a variante Delta, aponta que a cepa está se sobressaindo em relação à Gama.
“Os números mostram que a situação está mudando todo dia. Então, a velocidade com que a variante Delta está crescendo é maior do que a gente esperaria se a Gama fosse segurar essa disseminação, vamos dizer assim. Eu acredito, dada a maior transmissibilidade dessa cepa e esses números que estamos vendo, que a Delta tem chances de se tornar a variante dominante no país”, afirma Pedra.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) já considera que a variante Delta se tornará dominante em todo o mundo.
O relatório mais recente do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), do governo dos Estados Unidos, mostra que a variante Delta é duas vezes mais contagiosa do que outras mutações do coronavírus e que a transmissão da cepa é comparável à catapora.
O virologista Flavio da Fonseca, do departamento de Microbiologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, explica que isso ocorre porque uma das principais características das mutações sofridas pelo coronavírus é facilitar uma ligação mais eficaz entre o vírus e as células humanas.
“Todo vírus precisa reconhecer as células que ele vai infectar, se ligar a elas, para depois causar a infecção. Para isso, ele usa a proteína S, que se liga a uma outra proteína que está na superfície das células humanas, como um receptor. O que acontece nessas variantes é que elas têm a capacidade de se ligar com mais força a esse receptor e causar uma infecção com mais resultado”, explica Fonseca.
Vale ressaltar que, apesar da maior transmissibilidade da Delta, as vacinas em aplicação contra o coronavírus se mostraram eficazes, depois das duas doses completas, em prevenir casos graves e mortes pela covid-19 causadas pela cepa.
O governo do Rio de Janeiro, devido ao aumento das internações, já solicitou a ampliação dos leitos de UTI em algumas regiões da cidade.