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BUSCA POR ATIVIDADE FÍSICA DEVE AUMENTAR NO PÓS PANDEMIA

Desdobramento da pandemia, o problema do sedentarismo, que já mobilizava a preocupação de autoridades de saúde em todo o mundo, agravou-se consideravelmente no Brasil desde março de 2020, quando medidas de enfrentamento do coronavírus começaram a ser implementadas.

De lá para cá, a população passou a ficar mais tempo diante de aparelhos de televisão e de computadores. Antes, a média em à TV era de uma hora e 20 minutos, contra, agora, três horas por dia. Já o intervalo de uso de desktops e notebooks saltou de uma hora e meia para até cinco diárias. Os dados são de uma pesquisa de comportamento realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O estudo também apurou que, entre os 44.062 brasileiros entrevistados, 62% disseram que deixaram de praticar qualquer atividade física na pandemia.

Essa redução é especialmente alarmante no país, que aparece na quinta posição entre os mais sedentários do mundo, liderando esse ranking na América do Sul, conforme apontamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com publicação da entidade feita em 2019, portanto antes da Covid-19, 46% dos brasileiros não tinham hábito de se exercitar. Entre os que faziam alguma atividade física, menos de 5% frequentava academias de esportes, musculação e ginástica.

“Esses índices evidenciam como os esforços (de autoridades de saúde) para trazer mais pessoas para esses espaços têm falhado”, analisa o professor de educação física Eduardo Netto, o Dudu, diretor técnico da rede Bodytech.

Mestre em ciência da motricidade, ele reconhece que boa parte do público que frequenta academias atualmente tem como foco a busca por resultados estéticos e de performance. “Muitos chegam com essa expectativa e esperam por resultados rápidos. Por isso, há aqueles que exageram, se expondo ao risco de lesão, sobretudo se fazem as atividades sem supervisão, como é o caso da esmagadora maioria dos brasileiros”, situa.

Outro problema associado a essa ansiedade por breves e visíveis transformações no corpo é a frustração. “Não são poucos os que desistem porque chegam à academia tentando alcançar um padrão de corpo que pode ser inacessível. Pessoas que chegam tentando alcançar o porte de influencers, sem entender que aquele resultado, em grande medida, demanda atenção a aspectos que vão para muito além da academia – e isso sem falar em fatores genéticos”, observa.

Diante dessa realidade de pouca adesão a uma rotina fisicamente ativa, Dudu salienta que os espaços esportivos precisam se mostrar acolhedores a todos os públicos. “Claro que a gente pode orientar uma pessoa sobre a importância de evitar o celular entre uma série e outra. Ela pode desaquecer ou pode ser que receba uma mensagem que resulte na perda de motivação naquele dia. Mas não dá para ser proibitivo”, situa.

Na avaliação do educador físico, o grande desafio dos instrutores é compreender o que a pessoa que está sob seus cuidados pode e deseja fazer. “É muito comum, por exemplo, aquele perfil de pessoa que diz não ter tempo. Cabe a nós mostrar que o pouco tempo que ele tiver já será suficiente para combater o sedentarismo. A partir disso, estimular o sujeito a usar mais o corpo no dia a dia”, salienta.

Diferentes perfis 

O educador físico Cássio Vasconcelos, 50, que atua em uma academia localizada na região Centro-Sul de Belo Horizonte, observa que há perfis diversos de frequentadores nesses espaços. “Tem aqueles comprometidos com o próprio treino, mas também os que chegam orientados por médicos, com foco no controle de algum quadro, ou os preocupados em interagir uns com os outros – e mais pessoas têm vindo com esse objetivo (de socialização) nestes últimos tempos”, comenta, observando que cabe aos instrutores orientar cada um desses alunos.

Mudança 

Se, em um primeiro momento, a pandemia levou a um arrefecimento da busca por atividades físicas, a expectativa é que, agora, essa demanda se amplie. E, ao que tudo indica, o foco em estética deve ceder espaço para a preocupação com a saúde.

“Em países em que a Covid-19 está mais controlada, como na China e na Austrália, temos notícias de um crescimento na procura por atividades. Nessas nações, 30% dos novos clientes de academias nunca fizeram atividade física e enxergam nesses espaços a possibilidade de estruturar uma rotina mais saudável”, sinaliza Eduardo Netto.

O professor de educação física lembra que a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que todas as pessoas devem exercitar-se ao menos 30 minutos por dia. Uma medida considerada eficiente para a prevenção de doenças, como o diabetes tipo 2 e diversos tipos de câncer, além de reduzir sintomas de depressão e ansiedade. “Além disso, sabemos que meia hora de atividade física moderada por dia é suficiente para garantir melhoria da resposta do nosso sistema imune”, argumenta.

Na avaliação de Netto, essa mudança de perspectiva tem tudo para fazer crescer a adesão dos brasileiros à prática de atividades físicas. “Ao ajustar nossas expectativas, passamos a ter mais chances de criar um hábito. Então, em vez de pensar em perder 10 kg, é melhor ter como objetivo a manutenção de uma frequência de três visitas semanas à academia, algo que pode ser cumprido e medido concretamente”, sugere, inteirando que, nesse caso, o emagrecimento virá como consequência. “Costumo dizer que não existe exercício bom ou ruim e que o melhor será sempre aquele que você consegue fazer de forma contínua”, diz.

Em casa. Durante os períodos em que populações inteiras tiveram que lidar com medidas extremas, como o lockdown, a OMS chegou a liberar um guia de atividades que podem ser realizadas em casa. E, aparentemente, apesar do aumento do sedentarismo, a adesão à modalidade cresceu. A Bodytech, por exemplo, viu sua plataforma de programas de treinamento e personal trainer, o aplicativo BT FIT, ter um aumento de 25% em downloads, o que significou um crescimento de 107% em usuários ativos e 133% em receita.

Atenção. Antes de iniciar uma rotina de atividades, as pessoas que tiveram quadros graves de Covid-19 ou ficaram com sequelas da doença devem consultar um médico.

Protocolos. No atual momento, academias devem adotar medidas de segurança sanitária, como a obrigatoriedade do uso de máscara, o distanciamento e a higienização do ambiente.

Recomendações do guia da OMS:

Crianças e adolescentes (5 a 17 anos): 60 minutos por dia de atividades moderadas a vigorosas e atividades mais intensas 3 vezes na semana. Importante limitar o tempo que ficam expostos às telas.

Adultos (18 a 64 anos): Pelo menos de 150 a 300 minutos por semana de atividade física moderada ou de 75 a 150 minutos de atividade de intensidade vigorosa. Importante combinar diferentes tipos de treinos, que fortaleçam a musculatura e envolvam todos os grupos musculares.

Pessoas com 65 anos ou mais: Pelo menos de 150 a 300 minutos por semana de atividade física moderada ou de 75 a 150 minutos de atividade de intensidade vigorosa também. Importante fazer atividades que trabalhem o equilíbrio funcional e o treinamento de força para aumentar a capacidade funcional e evitar quedas.

Mulheres grávidas e puérperas: 150 minutos de atividade de intensidade moderada durante a semana. Importante combinar atividades físicas aeróbias e de fortalecimento também. Alguns tipos de atividades devem ser evitados por mulheres grávidas, como as com risco de queda, por exemplo. É necessário consultar um profissional de saúde.