CERVEJA FICARÁ MAIS CARA
A guerra na Ucrânia já elevou o preço dos pães, do combustível e das carnes no Brasil, e a sucessão de altas não deve parar por aí.
A cerveja, que já sofreu uma inflação de quase 8,4% no acumulado dos últimos 12 meses, considerando fevereiro, deve ficar ainda mais cara no futuro próximo.
A previsão é da própria indústria cervejeira, que depende de insumos importados, além de absorver altas internas, como dos fretes.
O Superintendente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindcerv), que representa as maiores fabricantes do país, Luiz Nicolaewsky afirma que cada empresa definirá os parâmetros e o momento do reajuste.
“O aumento deve ser no decorrer do primeiro semestre, mas temos que aguardar a estratégia de cada empresa. Temos aumento do petróleo, da energia, nossos insumos são quase todos commoditizados, e as commodities variam com os preços internacionais. Existe pressão para aumento”, diz Nicolawesky.
Em fevereiro, antes da guerra, a Heineken havia afirmado que aumentaria os preços globalmente para compensar a alta dos custos.
A Ambev, por sua vez, adota uma política de “hedge”, estratégia que permite antecipar o preço das commodities em um ano, reduzindo o efeito das altas do mercado internacional sobre a produção.
A empresa, que é produtora da Skol, da Brahma e da Budweiser, por exemplo, já havia reajustado os valores em outubro de 2021.
Nas cervejas artesanais, a inflação é dada como certa. “O aumento ocorre desde o último trimestre do ano passado, e a guerra acentuou isso. O malte aumentou 30%, o lúpulo pelo menos 20%… No curto prazo, provavelmente até o mês que vem, teremos um aumento de 10%, 15%”, diz o presidente da Associação dos Cervejeiros Artesanais de Minas Gerais (Acerva Mineira), José Bento Vargas.
A indústria brasileira importa cerca de 70% do malte utilizado nas cervejas. A maior parte vem de parcerias do Mercosul, mas a queda da oferta de trigo, cevada e malte da Rússia e da Ucrânia, algumas das principais produtoras mundiais, pressiona os preços na América Latina.
“Nossa orientação é apertar ao máximo as torneiras para reduzir custos de fabricação e distribuição, porque também temos problemas internos bastante significativos, como o poder de compra do brasileiro, que tem se deteriorado ano a ano”, explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), Paulo Petroni.
Venda de cerveja aumentou 7,7% em 2021
O consumo de cerveja só aumentou durante a pandemia. Após uma alta de 5,3% entre 2019 e 2020, o volume de vendas cresceu novamente em 2021, passando de 14,3 bilhões de litros no Brasil, 7,7% a mais em relação ao ano anterior, segundo levantamento da Euromonitor encomendado pela SindCerv.
Já para o mercado das cervejas artesanais em Minas, segundo o presidente da Acerva Mineira, José Bento Vargas, os últimos anos foram de aperto.
“Cervejarias chegaram a ter 60%, 70% de diminuição de vendas. A cerveja artesanal foi afetada pela questão do preço, que é maior. Muitas empresas fecharam, e pessoas perderam empregos, então o pessoal foi para as cervejas mais baratas”, diz.
A mineira Krug Bier foi na contramão desse movimento e, segundo o mestre cervejeiro Alfredo Figueiredo, a empresa cresceu de 20% no último ano – o que não impedirá reajustes.
“Tivemos um aumento em dezembro e agora estamos fazendo mais um. São pequenos para não ser um baque, mas devem chegar aos 10%”, conclui ele.