CONSTRUÇÃO CIVIL ENCARECE 69% EM 10 ANOS
Uma pesquisa da Grua Insights, feita para o mercado, reportou que 90% dos empresários da construção afirmaram ter dificuldade para encontrar trabalhadores. Dentre as categorias com maior escassez, o pedreiro lidera a lista, sendo citado por 27% de quem participou do levantamento. Servente e carpinteiro são outras modalidades citadas.
Como resultado, 70% das empresas admitiram, conforme o estudo, ter adiado entregas de obras nos últimos seis meses. O panorama é um obstáculo à previsão de um investimento de R$ 1,3 trilhão até 2029 no país, conforme cálculos da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
O presidente da entidade, Renato Correia, falou sobre a cifra durante um evento com empresários do setor em Minas Gerais. Na ocasião, o representante da CBIC relatou à reportagem de O TEMPO que os empecilhos relacionados à mão de obra qualificada não são exclusivos à construção civil que, segundo dados do IBGE, emprega 2,8 milhões de pessoas.
“Nós temos uma grande massa de trabalhadores na informalidade e precisamos entender o que está acontecendo”, observou. Para atrair quem atua fora do mercado formal de trabalho, Correia garante que o setor é atrativo financeiramente por ter o terceiro maior salário de entrada no mercado no país, ficando atrás apenas do funcionalismo público e de quem atua nas áreas de informática e telecomunicações, conforme dados do Ministério do Trabalho. Outro público-alvo é de jovens.
A pesquisa da Grua Insights revelou que, em todo o país, a idade média nos canteiros de obras é de 41 anos. ‘É óbvio que o setor precisa se modernizar para atrair o jovem. Hoje ele pode ter um emprego na internet, se tornar um influencer, e outras profissões. Mas a construção está rapidamente se industrializando, digitalizando. Então, será muito atrativa para o jovem”, aposta Renato.
Cenário adverso
Luiz Henrique Bombinho tem uma empresa de construções em Belo Horizonte desde 2008. Ele atestou que, atualmente, para ter bons profissionais, precisa pagar mais caro. “Uma mão de obra especializada você até encontra, mas tem que ter uma condição financeira boa para contratá-los”, observou.
Segundo ele, há casos de muitos profissionais que iniciaram na construção civil seguindo a carreira de familiares, mas estão deixando os canteiros de obras para trabalhar em aplicativos de transporte
“Eu acredito que há essa possibilidade de um apagão de mão de obra. Os profissionais estão envelhecendo, a velocidade de trabalho é bem menor e daqui a pouco alguns não estarão trabalhando mais. Com certeza vamos ter um problema no futuro em relação à mão de obra”, projetou.
Obras mais caras
O vice-presidente de Relações Trabalhistas do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Felipe Boaventura, também avalia o cenário com preocupação. Boaventura citou que a escassez de bons pedreiros, serventes, bombeiros e outras modalidades de operários além de elevar o custo de mão de obra, impacta diretamente o valor dos imóveis.
O valor de construção do metro quadrado no Brasil, em novembro, chegou ao custo de R$ 1.786,82, conforme o IBGE. Em Minas Gerais, o valor é mais baixo, de R$ 1.684,62. No entanto, no acumulado dos últimos doze meses e deste ano, os preços subiram mais no estado do que na média nacional.
“Se eu não tenho trabalhador, eu tenho um aumento de custo na obra. Seja com possível aumento de salário, seja com alongamento do meu planejamento de obras”, contabilizou o vice-presidente do Sinduscon.
O encarecimento dos imóveis pode ser um balde de água fria ao mercado imobiliário, já que de acordo com uma pesquisa da Brain Inteligência Estratégica, a venda de novos imóveis em Belo Horizonte teve um salto de 60% no terceiro trimestre de 2024, em comparação ao mesmo período do ano passado. A comercialização também cresceu ante ao segundo trimestre do ano.
“Se eu tenho um aumento do preço dos imóveis, qual que é a minha grande preocupação? Eu vou ter inevitavelmente no médio e longo prazo uma retração no mercado, porque o público brasileiro principalmente de média e baixa renda têm uma baixa tolerância às variações de preço”, lamentou Felipe Boaventura.