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DELTA SERÁ PREDOMINANTE EM MINAS EM SEMANAS, AVALIAM ESPECIALISTAS

A variante delta do coronavírus deve se tornar majoritária em Minas Gerais em algumas semanas. Esta é a avaliação dos principais especialistas que trabalham no combate à pandemia de Covid-19 no Estado. As previsões para que isso ocorra giram em torno da primeira e segunda quinzena de setembro.

Atualmente, conforme a Secretaria de Estado da Saúde (SES), há 91 casos identificados de infecção pela variante delta em Minas. Duas mortes, uma em Rio Novo e outra em Uberaba, são investigadas, mas não tiveram, ainda, confirmação de relação com a cepa. O Ministério da Saúde, por outro lado, informou, que, nesta terça-feira (24), Minas chegou a 94 casos identificados.

As perspectivas em relação à delta estão ligadas às características dela – tão transmissível quanto o ebola e a catapora, de acordo com documentos do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos. Isso equivale a quase duas vezes o potencial de transmissibilidade do vírus original.

Casos da delta no Brasil, conforme Ministério da Saúde

10/08 – 570

17/08 – 1.051

24/08 – 1.405

O professor de genética da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Renan Pedra, que está envolvido no sequenciamento genômico de parte das amostras virais no Estado, afirma que, apesar de ter, há um mês, um “pensamento conservador” em relação ao avanço da variante, os números mostraram que não era o caso.

“Eu tinha uma postura conservadora quanto a isso, até um mês atrás, e esperava uma certa resistência da variante gama. A chegada da delta não era para ser tão avassaladora, pensava. O que os números estão mostrando para gente, seja em Minas, ou em outros Estados, é que está crescendo, porém”, narra o pesquisador.

Pedra elenca dois possíveis cenários preocupantes para Minas Gerais. O primeiro é em relação às pessoas que estão parcialmente imunizadas – seja por aplicação das primeiras doses de vacinas contra Covid-19, seja por contração natural da doença. O risco é “muito aumentado” para esse grupo, ressalta o professor, devido à alta virulência da cepa.

O segundo ocorre em pessoas que passaram pelo ciclo de imunização completo – com duas aplicações de imunizantes, ou aplicação única. Para essas pessoas, argumenta Pedra, pode haver um sentimento de que “a pandemia acabou” o que gera potencial risco tanto a elas, quanto às pessoas que não foram completamente imunizadas ainda.

“Observando o que ocorreu em outros países, como Estados Unidos, Israel e Reino Unido, vemos é que o número de casos aumentou mesmo com a imunização mais avançada do que a do Brasil. A delta tem uma maior facilidade de infectar pessoas já imunizadas, seja pela vacina, seja pela imunização natural. A crescente da cepa nos volta para as medidas anteriormente determinadas: continuar a vacinação e continuar com as medidas de isolamento, usando máscara”, alerta.

A variante liga um “sinal amarelo para toda a população mineira”, discorre o especialista, que clama: “a pandemia não está sob controle, e ainda não acabou. Queiramos ou não”. Há indícios de que pessoas imunizadas, apesar de terem grandes chances de não desenvolverem a doença, podem transmitir a delta com muito mais facilidade do que outras variantes.

Por isso, Renan Pedra diz que, a depender do cenário epidemiológico das próximas semanas, gestores públicos deverão repensar as reaberturas feitas em municípios e no Estado.

“Neste momento, ou no passado mais imediato, caminhou-se para flexibilizar. Vamos sentir, em poucas semanas, qual será o passo da dança, para volta do fechamento, ou não. Se houver aumento dos indicadores, o poder público vai ter que repensar. Vamos cobrar paciência da população de entender que as decisões não são finais nessa história”, conclui.

Sem intervenções, delta pode explodir

Unaí Tupinambás, membro do Comitê de Enfrentamento À Pandemia da prefeitura de Belo Horizonte, infectologista e professor da UFMG, detalha como, em um cenário sem intervenções e adoção de medidas de distanciamento social, a delta pode avançar.

Considerando dez ciclos de infecção – ou seja, quando o vírus circula de uma pessoa até alcançar dez, que, por sua vez, transmitem a outras pessoas, – a cepa majoritária na capital, hoje, atingiria 9,5 mil pacientes. Fosse a delta, com transmissibilidade considerada entre RT 5 e RT 8, o número pode ser de até 60 milhões.

“[O crescimento da delta] É muito mais exponencial. O que temos que considerar é isso. Manter as medidas não farmacológicas e avançar na vacinação. Essas medidas conseguem conter a transmissão, mas é preciso mantê-las”, afirma o médico.

Outra forma de controlar a cepa é coordenar a vigilância genômica das cepas, defende Jorge Pinto, professor titular da escola de Medicina da UFMG e infectologista.

“Essa epidemiologia molecular está pouca estrutura no Brasil. Não que não haja expertise, há vários laboratórios capacitados, mas faltou organização nacional do combate à epidemia. Além disso, precisamos assegurar a vacinação da população, em especial àqueles mais vulneráveis”, diz.

Principais sintomas da Delta

Os principais sintomas ocasionados pela variante delta são febre, dor de cabeça, coriza e dor de garganta. Foi identificado que infecções causadas pela cepa costumam ter menor ocorrência de tosse e perda de paladar e olfato. Isso, em comparação a outras variantes do coronavírus, pode levar o paciente a confundir com os sintomas de um resfriado comum.

Outra característica da cepa, conforme estudo da Fundação Oswaldo Cruz, é de que existe maior risco de reinfecção em indivíduos infectados pela variante gama e beta, respectivamente identificadas primeiro em Manaus e África do Sul.

Além de Minas Gerais, casos de infecção pela delta foram registrados no Maranhão, no Rio de Janeiro, no Paraná, em Goiás, em São Paulo, em Pernambuco e no Distrito Federal. Transmissão comunitária foi confirmada em São Paulo e Rio de Janeiro.

Via O Tempo