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FALTA DE ATENÇÃO CAUSA QUASE METADE DOS ACIDENTES EM MG

Entre janeiro e setembro deste ano, Minas Gerais somou 220.424 acidentes de trânsito, o que representa um aumento de 12.720 acidentes (6%) comparado ao mesmo período do ano passado — em 2023, foram registrados 207.704 ocorrências do mesmo tipo. Para Cristiano, que foi arremessado contra um poste e precisou passar por fisioterapia para voltar a ter mobilidade no joelho, a confiança no trânsito nunca mais foi a mesma. “O carro atravessou direto, ultrapassando a placa de ‘Pare’. Não deu tempo de escapar, nem recebi socorro da família. Foi aí que aprendi a não confiar em placas ou sinalizações, mas ficar atento à movimentação dos motoristas”, lamenta. Ultrapassar o “Pare” é infração considerada gravíssima, conforme o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

Para o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra, um fator que explica a falta de atenção estar no topo das causas de acidentes é a “síndrome do pensamento acelerado”. Ele diz que a sociedade atual está acostumada a um bombardeio constante de informações e estímulos, inclusive durante a direção.

“O uso do celular frequente passou a fazer parte da rotina na vida moderna das pessoas, e tem refletido no trânsito. As muitas colisões que acontecem poderiam ser evitadas, se a atenção no trânsito estivesse concentrada. A chance de acontecer uma colisão na traseira de um carro, atingir um pedestre, mudar de faixa sem querer e ferir um motociclista é muito grande quando a atenção do condutor está dividida entre a direção e o celular, por exemplo”, explicou.

Coimbra reforça que a alteração da data de renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), que aumentou de cinco para dez anos em abril de 2021, também influenciou no aumento de acidentes de trânsito. Ele afirma que o critério ‘idade’ não deveria ser utilizado como parâmetro para a renovação. “Essa alteração mostrou um despreparo dos gestores, que têm todos os dados sobre acidentes e mortes e que sabiam que essa medida não poderia ser realizada. O interesse da decisão foi escuso (escondido) à sociedade, que idealizava somente a economia dos documentos renovados. Quando analiso o perfil comportamental de mortes durante acidentes, entendo que os jovens de 18 a 36 anos são os que mais morrem, portanto como eles podem ficar 10 anos sem uma avaliação médica competente?”, ressaltou o diretor.

  • A Lei nº 14.071, que entrou em vigor em abril de 2021, prevê que a renovação da CNH varie de acordo com a idade do motorista, sendo:

Condutores de 18 a 49 anos: validade por 10 anos;
Condutores entre 50 e 69 anos: validade por 5 anos;
Condutores com 70 anos ou mais: validade por 3 anos;

Além do desvio de atenção do motorista no volante, a especialista em Segurança no Trânsito, Roberta Torres, considera o excesso de velocidade, a ingestão de álcool, e a falta de equipamentos de segurança obrigatórios — como o uso de cintos e cadeirinhas para crianças menores de 5 anos —, como influenciadores na alta de acidentes. “Esse aumento visto este ano é preocupante”, disse.