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MG TEM 363 VÍTIMAS DE GOLPE POR DIA

Em tempos de redes sociais e compras pela internet, as pessoas se preocupam cada vez mais com os riscos de serem vítimas de fraudes virtuais. Entretanto, golpes antigos, praticados há anos, continuam frequentes e dando muito prejuízo a quem é enganado pela lábia dos golpistas. São fraudes aplicadas no meio da rua ou pelo telefone, sem qualquer tipo de sofisticação ou grandes aparatos tecnológicos. Conhecido pela gíria “171”, uma referência ao artigo que tipifica o crime no Código Penal, o estelionato fez, em média, 363 vítimas por dia em Minas Gerais no primeiro semestre de 2023. Foram mais de 65 mil ocorrências do tipo registradas pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

 

A prática criminosa induz a pessoa ao erro e, geralmente, mexe com a inocência e ambição das vítimas com a promessa de altos retornos financeiros. Golpe do falso sequestro, esquema de pirâmide, investimentos em lotes inexistentes, a lista de trapaças é infinita. No dia 20, mãe e filha foram presas em flagrante, suspeitas de integrar um esquema de estelionato conhecido como “golpe do falso emprego” em Belo Horizonte. Em sua maioria menores de idade e jovens adultos em busca de emprego, as vítimas eram abordadas pelo telefone e convidadas para entrevistas na empresa, localizada na Rua dos Goitacazes, onde elas atuavam como proprietárias. As vítimas recebiam promessas de empregos garantidos e compravam cursos de capacitação, que chegavam a custar quase R$ 2 mil. Ainda não há informações sobre número de pessoas prejudicadas.

 

O estelionato, segundo especialistas, está ligado a duas questões: vítimas vulneráveis, como os idosos e pessoas com deficiência mental, e também casos em que a pessoa acredita que terá vantagem, que “vai se dar bem”. “O perfil da vítima é fundamental para entender isso. O estelionatário escolhe seus alvos, ele quer facilidade. Ele já sabe em menos de cinco minutos de conversa se a pessoa vai cair ou não, não vai perder tempo”, aponta Jorge Tassi, advogado criminalista e pesquisador em segurança pública.

Cada vez mais criativos, os golpistas se adaptam regularmente para fazer novas vítimas. Com muita lábia, os golpistas se passam até mesmo por órgãos oficiais e empresas para enganar as pessoas, trajando até mesmo uniformes e crachás. “Em lugares de maior fluxo de pessoas, como rodoviárias, tem a figura do ‘olho de tolo’, por exemplo, aquela pessoa que quer se aproveitar de uma oportunidade e acaba correndo riscos maiores para fazer qualquer tipo de negócio”, comenta o especialista.

GOLPES DIGITAIS

Se antes os criminosos tinham necessariamente que se aproximar das vítimas para aplicar os golpes, hoje eles conseguem agir à distância, sem mostrar o rosto, e tem uma série de estratégias para chamar atenção das pessoas pela tela do celular e do computador. Somente no primeiro semestre deste ano, foram registradas mais de 27 mil ocorrências de crimes cibernéticos em Minas Gerais, uma média de 112 casos por dia. O ponto de partida para esses golpes são ações de phishing –técnica que conduz as pessoas a compartilharem informações confidenciais. A explicação para isso, segundo o especialista em cibersegurança José Luiz Santana, é a chamada engenharia social, que é como uma manipulação psicológica. “O criminoso apela para a parte sentimental. Geralmente são golpes muito simples, mas que, na hora, mexem muito com o sentimento da pessoa. Se ele parar, respirar e pensar, vai sacar que é golpe. Por isso, é sempre uma jogada muito rápida, senão o fraudador perde esse apelo”, explica.

 

Uma das estratégias mais recorrentes acontece quando os golpistas criam um número falso usando a foto de um conhecido da vítima e entram em contato com mensagens do tipo: “oi, mãe, troquei o número, você salva?”. Também é comum o uso de páginas falsas que simulam sites oficiais e promoções, enviadas por e-mail, SMS e WhatsApp. A regra para não cair em golpes é simples: desconfie. “É como diz o ditado, quando a esmola é muita o santo desconfia. Os bancos nunca ligam para o cliente pedindo para que ele instale algum tipo de aplicativo em seu celular. Também nunca pedem senha nem o número do cartão ou ainda para que o usuário faça uma transferência ou qualquer tipo de pagamento para supostamente regularizar um problema na conta”, destaca o especialista em cibersegurança. Santana alerta, ainda, que as pessoas não devem clicar em links desconhecidos ou passar dados pessoais.

 

Além de levar a perdas financeiras, o crime gera um sentimento de culpa e vergonha, especialmente entre os idosos. No caso de fraudes virtuais, a pessoa ainda fica nervosa, apaga o contato e todos os registros do crime, o que dificulta a formalização da denúncia. “A reação inicial é sempre apagar tudo, mas, ao contrário, é importante preservar a prova do contato feito. Tudo que acontece no meio digital deixa muito mais rastro”, afirma Alexandre Atheniense, advogado especialista em direito digital. O contexto familiar reforça o silêncio, principalmente entre os idosos, e ainda contribui para uma subnotificação de casos. A pessoa fica constrangida por ter caído na conversa do golpista, como se ela fosse a errada, e os familiares fazem piada com a situação ou endossam o sentimento de culpa. “Muitos ficam tão constrangidos com o fato de terem caído em um golpe que não revelam nem mesmo para as pessoas mais próximas. A pessoa fica inebriada”, conta Atheniense.

 

Mas, engana-se quem pensa que os nativos digitais estão imunes aos golpes virtuais. Eles podem até ser requisitados pelos avós para ensinarem a usar os recursos digitais, mas, quando o assunto é segurança cibernética, também têm muito o que aprender. Segundo Santana, muitos jovens vêm perdendo dinheiro em fraudes na internet. “A história é diferente, mas o apelo é sempre sentimental. É o Playstation a R$ 200, promoções imperdíveis. Tem muitos jovens, que inclusive nasceram no mundo digital, sendo ludibriados”, alerta o especialista. A falsa promessa de encontrar um produto com preço incrivelmente baixo parece ser o calcanhar de Aquiles dos jovens e adultos, segundo o especialista. Os golpes de compras na internet representam 64% dos relatos de prejuízos, segundo pesquisa da Better Business Bureau (BBB, na sigla em inglês), organização internacional que avalia o desempenho e a confiabilidade de outras empresas.