Informação com Credibilidade

DepartamentosDestaquesNotíciasSaúde

MG TEM O MENOR NÚMERO DE MÉDICOS NO SUDESTE

 A pesquisa “Demografia Médica no Brasil 2023” mostrou que Minas Gerais tem 2,91 médicos a cada mil pessoas. No Espírito Santo, esse índice é de 3; em São Paulo, é de 3,5; e no Rio de Janeiro, o número chega a 3,77. Esse levantamento mostrou ainda que a situação é ainda mais difícil para quem vive longe dos grandes centros. Nas capitais brasileiras, a média de profissionais a cada mil pessoas é de 6,13. Nos interiores, passa a ser 1,84, índice três vezes menor.

Quando avaliado por especialidades, o quadro se torna mais crítico. Dados levantados pela SES-MG, via Lei de Acesso à Informação (LAI), mostram que, das 70 especialidades médicas listadas pela pasta, 18 contavam, em janeiro de 2024, com menos de cem profissionais especialistas do SUS para todo o Estado. O que no papel são apenas números, para Cibele representa uma pior qualidade de vida. Durante o período em que tenta um diagnóstico, o nódulo descoberto cresceu, e ela não consegue mais se alimentar corretamente. “O caroço está comprimindo as amígdalas. A dor é constante, a garganta dói, e sinto queimação no pescoço”, diz.

“Nós temos em Minas Gerais uma fila de 30 mil pessoas esperando uma consulta por oftalmologista. E isso inclui desde casos muito simples até situações que envolvem riscos para o paciente. A gente prioriza os atendimentos de urgência porque envolve risco de morte, mas, quando essa pessoa precisa de acompanhamento de algum especialista, ela fica dez anos esperando. Algumas não resistem”, afirma o coordenador de Vigilância em Saúde da Macrorregião Oeste, Alan Rodrigo da Silva.

Parte da solução passa por investimento, como explica o médico e ex-secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Jackson Machado: “A maioria dos especialistas não se interessa pela carreira pública, porque a remuneração é muito aquém daquela que eles recebem na rede particular. Isso é sério, porque não há como atrair mais profissionais sem conseguir oferecer a mesma remuneração”.

Falta de patologistas trava diagnósticos

O câncer é a principal causa de morte em 115 cidades mineiras, o equivalente a 17,5% do Estado. Em 2023, 80,85 mil pessoas foram diagnosticadas com a doença em Minas, e 26,95 mil morreram pelo agravamento do câncer.

Quem faz a análise do material da biópsia para avaliação do tipo de tumor são os anatomopatologistas. Na rede do SUS em Minas existem 251 desses médicos. Eles precisam processar o material, colocá-lo em lâminas para depois, em um trabalho de observação por microscópios, gerar os laudos.

“É preciso, no mínimo, 48 horas até que se forme a lâmina. Depois têm outros procedimentos, como o uso de colorações que precisam de mais 48 horas. E tem uma fila a seguir. Estamos conseguindo liberar os resultados em dez dias, mas no SUS a espera chega a 70”, explica Pedro Neves, médico Patologista do Hermes Pardini e responsável técnico do serviço de Anatomia Patológica do Grupo Fleury em Minas.

Para Marlene Oliveira, fundadora e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, o câncer precisa ser tratado com “senso de urgência” por meio da prevenção e do diagnóstico precoce. Um avanço nesse sentido seria investir na ponta, na qualificação dos agentes comunitários. “Eles estão dentro das casas das pessoas, conhecem a rotina e podem perceber sintomas, indícios (do câncer) e orientar o paciente”.

Programa vai avançar em teleconsultas

A dificuldade para se conseguirem exames pode ser reduzida com o programa Mais Acesso a Especialistas, do governo federal. A ideia é garantir aos pacientes a resolutividade de toda a sua condição. “O projeto vai garantir que, para receber o valor financeiro, o prestador de serviço entregue toda a linha de cuidados do paciente desde a consulta aos exames”, explica o subsecretário de Atenção à Saúde da Prefeitura de BH, André Menezes. Há uma semana, BH fez o credenciamento junto ao Ministério da Saúde. A expectativa é que a iniciativa se torne realidade no município em setembro.

Para o coordenador de Vigilância em Saúde da Macrorregião Oeste, Alan Rodrigo da Silva, o projeto pode reduzir a pressão na rede. “Atualmente, a resolutividade na rede primária é de 50%. O ideal é chegar aos 70% para que só os casos que necessitem sejam encaminhados para especialistas. O modelo previsto no projeto do governo vai avançar nas teleconsultas porque, na unidade de saúde, o médico generalista vai acompanhar consultas online dos pacientes com um especialista, sem deslocamento. Os diagnósticos sairão mais rápido”, diz.