SAIBA SOBRE A FADIGA CRÔNICA QUE TEM AFETADO PESSOAS PÓS COVID
Um cansaço que não melhora nem mesmo após uma noite de sono, mal-estar depois de realizar esforços físicos ou mentais, dificuldade para organizar ideias e até para permanecer em pé. Esses sintomas, quando persistem por mais de seis meses, sugerem uma doença pouco conhecida, mas que tem sido experimentada por algumas pessoas após a Covid-19: a SFC (síndrome da fadiga crônica), também chamada de encefalomielite miálgica.
Longe de ser mera preguiça, a doença impõe uma limitação que pode ser severa, além de ter sintomas que podem facilmente ser confundidos com os de outras condições, como depressão, burnout, hipotireoidismo, anemia e deficiência de vitamina D, por exemplo.
O médico Roberto Heymann, membro da Comissão de Fibromialgia da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia), explica que há somente teorias acerca das causas da SFC, uma delas doenças infectocontagiosas.
“Uma época se viam muitos casos de mononucleose [doença causada pelo vírus Epstein-Barr] em que a pessoa desenvolvia depois fadiga crônica. Agora, com a Covid-19, tem a pós-Covid, que apresenta como sintomas a fadiga importante, distúrbio cognitivo…”
O citomegalovírus, a bactéria que causa a doença de Lyme e o fungo Candida albicans (que provoca candidíase) também já foram mencionados em estudos sobre SFC, segundo o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento, apesar de a relação não ser totalmente estabelecida.
O especialista levanta uma dúvida: se a infecção por um patógeno é a causa por si só ou se é um gatilho em pessoas com predisposição para desenvolver fadiga crônica, algo que ainda precisa ser respondido pela ciência.
“A síndrome da fadiga crônica também é descrita após períodos longos de estresse no trabalho. No passado se falava muito de fadiga crônica em pessoas extremamente perfeccionistas, grandes trabalhadores, gente que ocupava cargo alto em corporações, com estresse importante. É como se fosse um burnout. Agora, se perguntarem: qual é a diferença da síndrome da fadiga crônica para o burnout? É algo difícil de dizer”, exemplifica.
Outro fator para o qual Heymann chama a atenção é a sobreposição de doenças. Segundo ele, é comum que pacientes com SFC também estejam deprimidos, o que torna o diagnóstico ainda mais complexo.
“Uma pessoa extremamente ativa que de uma hora para outra começou a ter fadiga e desenvolveu um quadro de depressão, a gente poderia chamar [seu estado] de síndrome da fadiga crônica”, argumenta, ao ressaltar a importância de tratar também o quadro depressivo.
Na depressão, existem o pensamento negativo, a falta de perspectivas e a desmotivação. Na síndrome da fadiga crônica, a pessoa pode até ter vontade, mas não consegue fazer as tarefas, já que há déficit de raciocínio e memória, o que é descrito como “nevoeiro cerebral”.
Avaliação médica busca descartar outras doenças que podem causar cansaço extremo
Embora o diagnóstico de SFC seja por exclusão – o médico vai descartar uma série de outras doenças possíveis por meio de exames ou avaliação clínica –, alguns critérios são levados em conta quando se suspeita dessa síndrome. São os seguintes:
• Cansaço importante que persiste por pelo menos seis meses em pessoa que não tinha essa queixa antes;
• Estar cansado a maior parte do dia;
• Fadiga que piora com atividade física ou esforço mental;
• Dificuldade de concentração, aprendizado, raciocínio ou memória;
• Tontura ao se manter em pé;
• Problemas de sono e acordar se sentindo cansado (sono não restaurador).
“Embora até 25% das pessoas relatem sentir fadiga crônica, apenas 0,5% delas (1 em 200) apresenta a síndrome da fadiga crônica”, acrescenta o Manual MSD, citando dados americanos.
Nos Estados Unidos, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) estima que entre 1 milhão e 2,5 milhões de pessoas sofram de SFC, mas ressalta que “muitas pessoas não foram diagnosticadas”.
Entre as razões para isso, o órgão aponta o acesso limitado aos serviços de saúde e até mesmo a falta de conhecimento dos profissionais da área sobre a síndrome da fadiga crônica.
“A doença é muitas vezes malcompreendida e pode não ser levada a sério por alguns profissionais de saúde”, diz o CDC em seu site.
Por ser uma doença que afeta várias áreas do corpo, o tratamento da síndrome da fadiga crônica envolve também diversas especialidades. Não existem remédios específicos.
Um estudo de 2011 aponta a TCC (terapia cognitivo-comportamental) e a TEG (terapia de exercícios graduais) como benéficas para pacientes diagnosticados com a síndrome, na comparação com aqueles que receberam apenas cuidados médicos.
“O principal do tratamento é tentar colocar a pessoa em uma espécie de programa de exercício gradual, ou seja, em que a intensidade dos exercícios vá aumentando ao poucos. Não é uma coisa fácil para um indivíduo cuja doença tem como característica justamente o cansaço extremo”, acrescenta Heymann.
Além disso, o médico vai tratar os demais sintomas individualmente, como as alterações no sono, eventualmente, a hipotensão ortostática, que causa tontura ao ficar em pé, entre outros.
O mais importante, segundo o especialista da SBR, é saber que existe possibilidade de retomar uma vida normal após o diagnóstico da síndrome da fadiga crônica, mas isso exige esforço e tempo.
“Às vezes, essa doença pode desaparecer do mesmo jeito que veio ou pode se manter para o resto da vida. O tratamento é difícil, muitas vezes, mas ela pode remitir. Em algumas pessoas, há períodos de melhora e de piora.”
Via R7