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TEMPO DE ESPERA POR CARRO 0 KM PODE DEMORAR ATÉ 1 ANO

Quer comprar um carro zero? É melhor não ter pressa. O tempo de espera para levar um 0 km para casa, em Minas Gerais, pode chegar a até um ano dependendo do modelo e da marca. De acordo com Sindicato dos Concessionários de Veículos do Estado, o tempo médio tem sido de 60 dias, mas para quem está na busca, como é o caso do aposentado José Neiri de Resende, 74, a espera tem sido muito maior. “Na Toyota, me pediram o prazo de um ano para entregar um carro. Desisti de comprar o zero-quilômetro e comprei um seminovo”, afirma.

A história se repetiu com a professora Fátima C, 58. Depois de anunciar e vender seu carro em apenas um dia, ela se decepcionou ao tentar comprar um novo. “Tenho um carro praticamente 0 km, com dois anos de uso só, e eu queria um outro. Quando decidi trocar, descobri que o meu tava 7% mais caro do que na época que eu comprei. A questão foi quando eu fui comprar um veículo novo, eles pediram a partir de dois meses para a entrega, mas o vendedor foi muito honesto e disse que não tem ninguém recebendo carro com 60 dias”, conta ela, que chegou a procurar modelos de várias montadoras. “Com isso, acabei desistindo, não posso ficar esse tempo todo sem carro”, completa.

Atualmente, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), há apenas 76,4 mil veículos em estoque no Brasil. O número é suficiente para apenas 13 dias de vendas. A entidade diz que esse é o pior nível em duas décadas.

Na Banzai Honda, já não tem estoque de veículos novos. O tempo médio de espera é de até dois meses. “Estamos com um prazo um pouco dilatado por conta da falta de matéria-prima, que não é um problema só nosso, é um fenômeno mundial. Hoje, nosso estoque está praticamente zerado, só trabalhamos entregando os carros que venderam previamente”, explica o diretor, Gabriel Lucian. Segundo ele, as vendas já estão nos mesmos patamares da pré-pandemia. A média mensal tem sido de 150 veículos por mês.

“Varia de acordo com a disponibilidade que temos, mas o que temos visto é que apesar da escassez, a procura continua  alta. As atividades estão sendo retomadas e as pessoas têm maior necessidade de locomoção”, pontua.

Seminovos também tem fila de espera

Com o desabastecimento enfrentado pelas montadoras, até o mercado dos seminovos tem tido fila de espera. No caso de modelos mais disputados como a Fiat Strada e a Saveiro, da Volkswagen, a espera chega a quatro meses.

De acordo com a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), de janeiro a agosto, as vendas de seminovos e usados em Minas Gerais avançaram 57,3% sobre 2020, com a comercialização de 1,27 milhão de unidades.

“A falta de veículos novos para compra, as dificuldades de locação e a piora dos serviços de transporte por aplicativos têm estimulado a demanda pelos  seminovos”, explica o diretor da Associação dos Revendedores de Veículos no Estado de Minas Gerais (Assovemg) e sócio-proprietário da AutoMaia Veículos, Flávio, Maia.

“Estamos trabalhando com 50% a menos do estoque. Temos carros que vendemos no mesmo dia. Nosso tempo médio de venda saiu de 27 dias e, agora, gira em torno de 14”, pontua.

Com a falta de semicondutores, só no último mês, 11 fábricas automotivas tiveram paralisações totais ou parciais, com isso, o setor produziu 21,9% menos na comparação com 2020, quando ainda não havia falta de insumos.

“O que está acontecendo é que as montadoras não têm componentes elétricos, chips e display multimídia. Tem uma demanda muito alta desses insumos para a indústria eletrônica por conta do home office, além disso, os maiores fabricantes desses semicondutores estão com problemas. A Malásia está enfrentando fechamentos recentes por conta de surtos de Covid e no Japão, a maior fábrica pegou fogo”, explica o consultor associado da Bright Consulting, Cássio Pagliarini, que prevê a melhora do cenário somente a partir de 2023.

“A pandemia fez com que todos os insumos subissem o preço. O aço, o alumínio, a borracha, todos os derivados do petróleo foram impactados. A questão é que não foi as vendas que aumentaram, não tem é carro no mercado. A tendência é que a situação piore, com as atividades retornando, as pessoas vão voltar a gastar com lazer e esse dinheiro que muitos estão investindo em carro, vai sumir do mercado, as vendas vão cair com os preços altos”, avalia Pagliarini.

Usados são vendidos com valores acima da tabela Fipe 

Com preços cada vez mais altos, fruto do combo formado por falta de peças e componentes, aliado ao aumento de custos, inflação e dólar alto, os carros novos já subiram 14% no Brasil nos oito primeiros meses deste ano.

Quando o assunto é seminovo, a situação é ainda pior. Segundo o IPC-Fipe, neste ano, os modelos usados já ficaram 20,8% mais caros, enquanto a inflação avançou 6,06% em 2021.

“Não existe mais o chamado carro popular. A procura por carro de R$ 40 mil é até muito intensa, mas esse carro não existe mais no mercado”, explica o proprietário da AG Automóveis, Gleyson Winster, localizada no Portal Auto Shopping, no bairro Carlos Prates, em BH. Com 30 lojas especializadas em seminovos, atualmente, o ticket médio dos consumidores no local é de R$ 54 mil. Em 2019, a compra por um usado custava, em média, R$ 35 mil.

“O preço da  Hilux, por exemplo, sobe R$ 10 mil de um mês para o outro. Em média, o valor dos carros tem subido, por mês, R$ 1.800”, afirma o empresário, que tem pagado acima da tabela Fipe. “Hoje é normal pagar em um carro de baixa quilometragem até a tabela, muitas pessoas têm vendido o carro mais caro do que quando comprou. Isso virou uma prática normal, uma vez que não tem carros disponíveis no mercado. Não tem em locadora, nem em concessionária”, explica Winster.

Via O Tempo