VEJA AS PRINCIPAIS SEQUELAS DA COVID-19
Pacientes infectados com COVID-19 podem continuar a sentir fadiga extrema e dor de cabeça por mais de quatro meses após o quadro infeccioso. Além disso, dores musculares, tosse, calafrios, congestão nasal e alterações no olfato e paladar são outros sintomas que podem permanecer por um longo tempo no período chamado de “pós-COVID”.
A constatação é de um estudo promovido por pesquisadores da Corte Prospectiva Neurológica e Molecular da COVID-19 (Conga), instalada dentro do Colégio Médico da Georgia, na Universidade Augusta, e publicado na revista ScienceDirect, nesta segunda-feira (8/8).
A equipe acompanhou 200 pessoas por 125 dias após o diagnóstico positivo da COVID-19 para analisar a gravidade e o período em que os problemas promovidos pela doença permanecem no corpo do infectado após a infecção.
De acordo com a autora principal do estudo, a médica Elizabeth Rutkowski, os resultados mostraram que “há uma longa síndrome de COVID-19” e que não é algo raro, “muitas pessoas são afetadas”.
Os números do estudo atestam a fala da especialista: dos 200 participantes, 80% relataram estar com sintomas pós-COVID. Destes, 68,5% afirmaram sentir fadiga extrema e 66,5% relataram que dor de cabeça é o principal problema enfrentado por eles – sendo estes dois os sintomas mais comuns da chamada “COVID longa”.Os pesquisadores explicam que a fadiga pode permanecer porque os níveis de inflamação no corpo – que é a resposta natural do organismo a uma infecção – permanecem elevados em alguns indivíduos mesmo após meses. A tese foi corroborada por meio de amostras de sangue coletadas no início do estudo e depois nos meses seguintes – os marcadores inflamatórios estavam no mesmo nível.
A descoberta mostra que os anticorpos do vírus podem diminuir, mas a inflamação do organismo permanece e produz os sintomas, como a fadiga. A continuidade da inflamação é pior em pacientes com esclerose múltipla e artrite reumatoide.
Em todos os casos, os pesquisadores afirmam que a sensação de cansaço não é apenas uma falta de energia ocasional. A fadiga pós-COVID relatada pelos pacientes é de um constante estado de incapacidade de realizar esforços pequenos no dia a dia. “Eles sentem falta de ar e palpitações ao lavar a louça e precisam imediatamente se sentar imediatamente. Sentem dores musculares ao menor esforço como se tivessem corrido um quilômetro”, explicou Elizabeth.
Alterações no olfato (54,5%) e no paladar (54%)também foram apontados por mais da metade dos analisados. Uma constatação séria foi registrada a partir dos dados fornecidos pelos participantes: 47% afirmaram sofrer comprometimento cognitivo leve, com 30% deles terem o vocabulário prejudicado e 32% com memória de trabalho afetada.
Para o estudo, os pesquisadores levaram em consideração não apenas o auto relato dos participantes, mas também o submeteram a testes neurológicos que analisaram o estado mental, os reflexos e a função motora dos analisados. Além disso, testes para identificar odores e capacidade de distinguir os gostos doce, azedo, amargo, salgado e sem sabor também foram feitos. Por fim, exames sanguíneos analisaram os indicadores de inflamação.
s dados mostram que as consequências da COVID são devastadoras mesmo em pessoas ativas e saudáveis antes da doença. “Alguns indivíduos com alto nível de funcionamento, que normalmente trabalhavam 80 horas por semana e se exercitavam diariamente, se tornam capazes de funcionar apenas cerca de uma hora por dia e ficar na cama o restante”, compartilha a autora do estudo.
Para os pesquisadores, a melhor alternativa é evitar o contágio. “Permanecer diligente em evitar a infecção é o melhor, incluindo vacinar ou tomar o reforço para ajudar a proteger seu cérebro e corpo de longos sintomas da COVID”, diz Elizabeth. O estudo ainda alerta que os prejuízos da doença podem ser maiores se o paciente for infectado por diversas vezes.
Depressão e ansiedade podem ser consequências crônicas da COVID; negros são mais afetados
Entre os 200 entrevistados, 25% relataram rotinas que, segundo os pesquisadores, se encaixam com o quadro clínico de depressão. Outros 18% demonstraram desenvolver ansiedade, junto a uma propensão para depressão e até mesmo anemia.
O relatório do estudo aponta que os pacientes com depressão e ansiedade também demonstraram maior número de sintomas crônicos. Para os especialistas, os quadros de piora na saúde emocional foram agravados pelo isolamento imposto como medida para reduzir o número de infectados da doença.
Outro apontamento da pesquisa revela uma maior propensão para COVID longa em pessoas negras: 75% dos participantes negros registraram comprometimento cognitivo leve, ante a 23,4% dos analisados brancos.
De acordo com os pesquisadores, estudos anteriores mostram que indivíduos negros e hispânicos são considerados duas vezes mais propensos a serem hospitalizados por COVID-19. Minorias étnicas e raciais também são mais propensas a viver em áreas com maior taxa de infecção – casas pequenas que não permitem isolamento, falta de acompanhamento médico em comunidades e outros fatores são apontados para explicar o risco maior.
O Conga informou que deseja analisar como a população negra é afetada pela COVID-19, principalmente nos sintomas pós-COVID. Os negros representam cerca de 33% da população da Georgia.