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VIDA CORRIDA E CONECTADA LEVA A INSTABILIDADE EMOCIONAL

Se antes o cigarro era incentivado, aumentava a autoestima, a produtividade, a autoconfiança, o sucesso… passou a ser malvisto, banido com o aparecimento dos seus males nas décadas passadas. Agora, é o estresse desta vida acelerada, em que não se pode parar nunca. “Estamos sempre on-line em algum tipo de aplicativo de comunicação ou rede social. Não nos permitimos ter um tempinho livre, pois não sabemos o que fazer com ele!” diz a médica Rosana Simões, especialista em clínica médica, gastroenterologia e terapia intensiva. Ela avalia que o avanço que a tecnologia permitiu em termos de comunicação adoece e faz as pessoas escravas de respostas imediatas e do extremo acesso pessoal a todo tempo e lugar, sem respeito à individualidade.
“O que não era óbvio, mas que estamos percebendo, é que a nossa maior riqueza – o cérebro – está adoecendo em uma velocidade ultrarrápida e, com isso, a nossa máquina perde eficácia, eficiência e adquiri condições que ameaçam todo o sistema”, afirma Rosana Simões. Ela explica que não conseguir dormir direito e viver cansado é visto como agressão grave à saúde. “O portador desta condição já é considerado instável emocionalmente.” Como também eram os fumantes. “Hoje, avaliamos que o estresse é o cigarro do século XXI”, acrescenta.
Mas a médica vê a situação mais crítica agora porque todos estão nesta correria desenfreada, com sensação de cansaço generalizado. “Inclusive ensinando as crianças a serem assim. Esta era no século XXI trouxe novos desafios de como conciliar tecnologia e saúde mental”, diz. Ela lembra que o estresse é uma ferramenta necessária para ser usada quando se está em ameaça, oferecendo condições de defesa e que foi muito útil nos tempos das cavernas.
“Hoje, somos ameaçados pelo trabalho, escolas, competição profissional, questões familiares, financeiras, além da busca incessante pela manutenção da autoestima, colocada nas mãos dos likes do mundo virtual”, relata Rosana Simões. Ela explica que quem garante uma resposta adequada a uma situação de risco são os hormônios contrarreguladores do estresse. “Eles compõem uma orquestra, que tocando uma sinfonia maravilhosa nos fazem ter sucesso em todos os âmbitos. Mas os mesmos hormônios nos matam se ficarem o tempo inteiro tocando sem parar. Cansam o sistema, pois o obrigam a manter-se preparado para a luta ou para a fuga, 24 horas por dia.”
Segundo a médica, as reservas de saúde, neste caso, são consumidas rapidamente. “Ficamos susceptíveis até as chamadas infecções oportunistas, que apenas têm vez diante da fragilidade do sistema de defesa.” Ela diz que a detoxificação do sistema é outro ponto comprometido, porque há sobrecarga dos órgãos responsáveis pela “limpeza” dos detritos desta guerra diária.
A médica diz que quanto antes for identificado o que ameaça a pessoa mentalmente e compromete sua capacidade de regeneração mais rapidamente pode-se parar este processo. “A nossa saúde está escapando pelos dedos das mãos por termos um cérebro mal comandado, extremamente conectado, com vários pensamentos e problemas abertos ao mesmo tempo e sem tempo de trégua.” Ela reforça que a perda do foco implica em prejuízo de produtividade.
“No final do dia estamos extremamente cansados e ainda ligados, porém frustrados e deprimidos por não termos cumprido nem a metade dos objetivos do dia. Ao invés de entendermos que precisamos parar para hospitalizar o cérebro, o chicoteamos com efedrinas, cafeína e drogas estimulantes”, afirma Rosana Simões. Ela acredita que, enquanto isto, os consultórios vão estar cada vez mais lotados e o pior: o estresse causando mais doenças. “Hoje, sabemos que o câncer, antes doença genética ou hereditária, passou a ser considerada uma doença metabólica e, portanto, secundária aos hábitos de vida.”