MÉDICOS SÃO INVESTIGADOS POR ABUSO SEXUAL EM MG
Atualmente, há cinco sindicâncias por abuso sexual em apuração no Estado. O número de queixas que chega ao órgão, porém, está aquém da realidade.
Muita subnotificação
A coordenadora estadual de promoção dos direitos das mulheres da Defensoria Pública de Minas Gerais, Samantha Vilarinho Mello Alves, avalia que “muitas mulheres não têm coragem de ir à delegacia ou ao CRM”. Para a defensora, a subnotificação tem alguns aspectos. O primeiro tem relação com a falta de conhecimento, já que nem todos os abusos são tão claros como aquele cometido pelo médico anestesista Giovanni Quintella.
“É preciso haver campanhas onde se mostra o que está certo, e o que está errado”, afirma Samantha. Outro motivo dos números não refletirem a realidade tem a ver com a dificuldade ligada ao constrangimento e à sensação de impunidade. “A mulher não quer se expor e, qualquer abuso, é constrangedor”. Além disso, a especialista explica que é a palavra da vítima contra a de um homem, geralmente branco, heteronormativo que já tem o respeito de delegados e juízes. “As mulheres se sentem muito solitárias”, acrescenta.
A delegada Renata Ribeiro, da Divisão Especializada em Atendimento à Mulher, ao Idoso, à Pessoa com Deficiência e Vítima de Intolerância, concorda que há subnotificação em todo crime contra a dignidade sexual, seja importunação, abuso, estupro, entre outros.
“Muitas mulheres se sentem culpadas, mas é preciso entender que nenhuma vítima é culpada do crime cometido contra ela”, reforça. Para a delegada, é preciso apoiar as denúncias e não buscar explicações que justifiquem um comportamento criminoso, como a vestimenta da mulher.
Importância do acompanhante
A defensora Samantha Vilarinho Mello Alves aconselha que a mulher sempre leve acompanhantes para as consultas médicas. Há, inclusive, legislações estadual e federal que garantem o direito a não ficar sozinha em consultas médicas. “Ninguém vai impedir um acompanhante de entrar em uma consulta, mas há mulheres que não tem nenhuma rede de apoio”, analisou.
Câmeras podem ser solução
Em alguns procedimentos, não há como ter o acompanhante por causa da esterilização ou radiação. Nesses casos, a defensora acredita que um caminho possa ser a instalação de câmeras. No entanto, essa questão envolveria um acompanhamento rigoroso para que imagens não fossem vazadas, além de manutenções periódicas, entre outras questões.